sábado, 28 de dezembro de 2013

As Informações no contexto histórico da humanidade

                                                             Moacir da Cruz Rocha
As invenções e descobertas feitas pelo homem são caracterizadas pela apreensão em facilitar a sua vida. Quando se refere à produção, a preocupação é no sentido de diminuir os esforços necessários para a produção de bens para seu próprio consumo, objetivando melhorar o desempenho e aumentar a produtividade, sem desprezar a eficiência e qualidade dos produtos.
Em relação à comunicação, registra-se o Alfabeto, como importante invento dos Gregos por volta do ano 700 antes de Cristo, fato fundamental para a construção do conhecimento e, em particular, para a compreensão e discernimento da Filosofia e das Ciências. A escrita provocou incomparável transformação na forma de comunicação dos homens, apoiada pela invenção do papel pelos chineses, e mais tarde impulsionada pela invenção da imprensa.
Desde os tempos primitivos o homem preocupa-se com a ampliação de sua capacidade de trabalho mental (...). Assim, o desenvolvimento da atividade humana exigiu sempre que o homem criasse dispositivos de registro e processamento da informação, como forma de interferir no, adaptar-se ao, e controlar o meio em que vive (YOSSEF, 1995, p.10-11).

Por sua vez, Barreto (1995) acrescenta que o fluxo de informação e sua distribuição ampliada e eqüitativa tem sido um sonho dos homens desde remotas épocas. Desde a escrita o homem vem provocando proezas tecnológicas que geram mudanças em sua visão e relação com o mundo da informação.
As redes de saber podem ser consideradas finita ou infinita, já que cada um de seus pontos de formação pode ser ligado ou religado a qualquer outro, o seu procedimento de conexão é um contínuo processo de correção das conexões. A rede do saber seria sempre ilimitada, pois a sua estrutura é consecutivamente diferente da estrutura que era um momento antes e a cada vez se pode percorrer o caminho de acordo com trilhas diferentes. A distribuição do conhecimento dita, ‘em rede’, é algo observado desde o século XVII passando por antigas instituições e grupos de estudiosos.
Mas na idade média, que consideramos aqui como o período entre o fim do Império Romano e o nascimento da civilização da Grécia e Roma, algo entre os anos 900 e 1300 a informação era privilegio dos eruditos e estava retida pelos muros dos mosteiros cuidada e vigiada pelos monges (BARRETO, 1995, p. 3).

O livre fluxo de informação e sua distribuição eqüitativa tem sido um sonho de diversos homens em diferentes épocas. A rede de saber universal foi uma preocupação observada desde a Academia de Lince, a primeira sociedade Científica da Europa, criada em 1603, na Itália, por Frederico Cesi. Galileu Galileu foi um dos seus mais relevantes membros, nela ingressando em 1611.
A Royal Society, fundada em Londres em 28 de novembro de 1660, foi reconhecida oficialmente em 1662. A Academia de Ciências de Paris foi criada em 1666; a de Berlim é de 1700 (BARRETO, 1995).
A procura pela adequada distribuição do conhecimento produzido pela humanidade vem desde o século XVII passando por antigas instituições e grupos europeus e americanos do norte, como a construção da Enciclopédia de Diderot e D’Alembert, por exemplo. Ainda na Itália tem-se a Accademia del Cimento, em Florença criada em 1651, essa se destacou por semear os primeiros observatórios meteorológicos do mundo por diversos países da Europa, equipados com os instrumentos inventados por Galileu, o cientista dos séculos XVI e XVII.
A criação das academias de Londres (em 1665), de Paris (em 1666) e de Berlim (em 1700) ocorreu quando essas cidades começaram a destacar-se pela criação de conhecimento científico, substituindo lentamente em relevância científica as italianas, que em meados do século XIX começavam a decair.
A meta das primeiras academias era o de possibilitar a qualquer pessoa do povo saber o que era ciência e como eram feitas as descobertas científicas, já que em suas reuniões se praticava geralmente a realização de experimentos para que os leigos as vissem (BARRETO, 1995, p. 4).

As redes de distribuição de saber, começando com as enciclopédias, procuram pela organização do conhecimento, mesmo considerando, que na enciclopédia a codificação do saber se dá em uma língua modelo e com conteúdos em universos particulares de linguagem. De uma representação enciclopédica nunca se extrai uma revelação definitiva do conhecimento ou sua exibição global.
Importante acrescentar que as inovações tecnológicas são fatores de transformação da humanidade, agindo diretamente sobre o destino dos homens. A história mais recente registra a 2ª Revolução Industrial no século XIX, que aliada às fontes geradoras de energia como petróleo, eletricidade, são exemplos de transformações ocorridas, que provocaram grande impacto na vida das populações do mundo, na medida em que permitiu aumentar a velocidade da produção, reduzindo as distâncias em virtude da melhoria dos meios de transporte, e da invenção do telefone, permitindo a comunicação à distância.
O uso da eletricidade contribuiu, entre outras coisas, tais como, a introdução da imprensa rotativa aumentando a velocidade de impressão, além de permitir a automação de outras tarefas feitas manualmente como dobras e encadernação. Contribuiu também para a sistematização do processamento de dados pelo pioneiro Herman Hollerith, através do aperfeiçoamento de máquinas eletromecânicas leitoras de cartão perfurados, usadas para tabular informações, e que passaram a ter grande utilização nas atividades comerciais e bancárias. Mais recentemente, em meados do século XX passou-se a presenciar a extraordinária revolução provocada pela Informática (YOSSEF, 1995).
Barreto (1995) acredita que a área de ciência da informação se renova ao sabor das inovações na tecnologia sendo preferível ocupar-se com a sua historiografia que com sua epistemologia. Dessa maneira, contar a história de como se atuava no passado é didático e essencial para o entendimento da evolução das práticas da área e para a formação dos seus profissionais.
A Tecnologia da Informação (TI) tem importante marco em 1946 quando é desenvolvido o primeiro computador eletrônico (ENIAC[1]), com objetivo de elaborar cálculos de grande complexidade, modesto se for considerada as proporções alcançadas na atualidade.
 Do primeiro computador em meados do século XX até o inicio do século XXI, se observa uma rápida evolução destes equipamentos, e, principalmente, se for considerada a capacidade de integração com os meios de comunicação, permitindo que os dados processados em grande velocidade, pudessem ser transmitidos através das redes de comunicação, fazendo com que qualquer informação seja conhecida em qualquer parte do mundo praticamente no mesmo instante em que é gerada.
O domínio das tecnologias e a utilização delas por grandes corporações impulsionaram a globalização econômica, proporcionando a integração instantânea dos mercados, facilitando a comunicação entre unidades de uma mesma corporação multinacional, aproximando suas unidades produtivas da unidade administrativa independente de suas localizações físicas, aumentando consideravelmente a velocidade das transações comerciais, e consequentemente aumentando lucros, reduzindo custos e emprego de mão-de-obra.
Neste contexto, um dos principais instrumentos é a rede mundial de computadores, a Internet[2], mais claro exemplo de integração de tecnologias de informação e comunicação, reunindo os recursos de transmissão de dados, voz e imagem. Outras tecnologias de informação e comunicação vinham sendo utilizadas, como o rádio, telefone, televisão, além da mídia impressa, que permanecem constituindo importantes meios de comunicação e permitindo que a informação chegue até as pessoas para que as mesmas possam formar sua própria opinião, além de adquirir novos conhecimentos. Portanto, estar à margem do conhecimento e domínio das tecnologias de informação é o mesmo que estar a margem do mundo atual e sofrer as desigualdades social, econômica e política.
De acordo com entendimento de Yossef (1995), se por um lado o domínio das tecnologias de informação contribuem para o desenvolvimento e bem estar das pessoas produzindo riquezas e proporcionando melhor qualidade de vida, do lado das populações mais pobres, que não conseguem atingir as condições mínimas necessárias para utilização destes recursos, seja por falta de conhecimento ou qualquer outro motivo, veem-se mais acentuadas ainda as desigualdades e a falta de oportunidades, fazendo com que os mais pobres fiquem cada vez mais dependentes.
 Entretanto, para aqueles para quem as oportunidades não faltam, assistir televisão, falar ao telefone, movimentar a conta no terminal bancário, verificar multas de trânsito, comprar produtos, trocar mensagens com qualquer lugar do mundo, estudar, pesquisar, são algumas das atividades cotidianas, em todo o planeta, e também no Brasil. Rapidamente, as pessoas se adaptam a essas novidades e passam, normalmente sem um entendimento mais profundo e sem grandes questionamentos, a viver numa nova sociedade, a da Informação (WILHELM, 2002).
A revolução da tecnologia da informação e a reestruturação do capitalismo introduziram uma nova forma de sociedade, a sociedade em rede, que é caracterizada pela globalização das atividades econômicas decisivas do ponto de vista estratégico; por sua forma de organização em redes; pela flexibilidade de instabilidade do emprego e a individualização da mão-de-obra; por uma cultura de virtualidade real construída a partir de um sistema de mídia onipresente, interligado e diversificado e também pela transformação das bases materiais da vida - o tempo e o espaço - mediante a criação de um espaço de fluxos e de uma referência intemporal como expressões das atividades.
Essa nova forma de organização social, dentro de sua globalidade, que penetra em todos os níveis da sociedade, está sendo difundida em todo o mundo, do mesmo modo que o capitalismo industrial. Admirável ou não, trata-se na verdade de um mundo novo (CASTELLS, 1999 p. 17).
De acordo com Wiener (apud KUMAR 1997, p.19), a informação é um requisito para a sobrevivência no meio social. É através dela que se estabelece o intercâmbio entre o homem e o ambiente no qual está inserido. A comunicação e o controle, portanto, na medida em que fazem parte da vida em sociedade, são parte integrante da essência da vida interior do homem.
Para Barreto 91995), o ideal compartilhado seria o de se construir uma sociedade do conhecimento não apenas uma sociedade da informação. É um erro confundir a sociedade da informação com a sociedade do conhecimento. A sociedade da informação é uma utopia de realização tecnológica e a do conhecimento uma esperança de realização do saber.
A Sociedade do conhecimento contribui para que o indivíduo se realize na sua realidade vivencial, essa compreende configurações éticas e culturais e dimensões políticas. A sociedade da informação, por outro lado, está limitada a um avanço de novas técnicas devotadas para guardar, recuperar e transferir a informação.
A sociedade da informação, em nenhum momento pretendeu ser a única responsável pelo conhecimento originado na sociedade. A sociedade da informação, de igual maneira, agrega as redes de informação, que são conformações com vigor dinâmico para uma ação de geração de conhecimento.
Por outro lado, salienta Barreto (1995), a velocidade e modalidade de acesso à informação modificam a sensibilidade e competência cognitiva do ser humano. A convergência da narrativa para uma base digital inseriu imagem e som na estrutura de informação.
O limite da tecnologia se dará consecutivamente, quando a inovação criada pela tecnologia, deixar de trabalhar em benefício do indivíduo e se voltar contra ele para lhe causar problemas. As novas tecnologias de informação de tão intensas produzem medo, porque aumentam, de forma considerável, os poderes do homem. Algumas vezes o transformam em objeto destes poderes. O mundo digital, por exemplo, cria facilidades para as atividades cotidianas, as atividades de pesquisa e de ensino, mas cria, também, monstros que assombram a segurança e a privacidade.
Na atualidade, muito se tem pensado neste novo tempo cibernético sobre a questão referente ao valor da tecnologia da informação quando ponderado contra a possibilidade de uma existência mais simples e com mais felicidade. Qual é o papel da informação em formato eletrônico no grande dilema da existência do ser humano atual. Quanto da informação se orienta para formar uma inteligência coletiva e quanto para uma inteligência de competição e de provocação de consumo em favor do mercado. Questiona-se se essas transformações se associam a felicidade do ser humano na simplicidade dos seus espaços de convivência.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARRETO, Aldo de Albuquerque. Uma quase história da ciência da informação. DataGramaZero - Revista de Ciência da Informação - v.9 n.2 abr/08.
CASTELLS, Manuel. O poder da identidade. v.ll. 2. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1999.
KUMAR, krishan. Da sociedade pós-industrial à pós-moderna: novas teorias sobre o mundo contemporâneo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997.
WILHELM, Anthony. A Internet e a participação política nos Estados Unidos. In EISEMBERG, José; CEPIK, Marco. Internet e política: teoria e prática da democracia eletrônica. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2002.
YOSSEF, Antonio Nicolau; FERNANDES, Vicente Paz. Informática e Sociedade. São Paulo: Ática, 1995.





[1] Computador e Integrador Numérico Eletrônico
[2]INTERNET - Rede de computadores por meio da qual qualquer comunidade pode se comunicar e trocar informações. O vocábulo inter vem da palavra interligada e o net de network, malha de comunicação que começou a ser definida em 1958 e chamava-se ARPANET. Foi criada por uma instituição militar americana (Pentágono) associada a cientistas, com a finalidade de proteger os EUA da ameaça comunista (WILHELM, 2002).

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