segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

PAC replica o velho modelo rodoviário

O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) até ampliou os investimentos em transportes no Pará, mas não atingiu os valores previstos e, vem repetindo os graves erros do passado. Esta é a conclusão a que chegou um estudo realizado pelo engenheiro agrônomo e administrador Moacir da Cruz Rocha. O resultado da pesquisa, intitulada “Cenários da logística de transporte da soja e do milho produzidos na região do Capim”, foi por ele apresentado como dissertação de mestrado em economia pela Universidade da Amazônia (Unama).
Os maiores produtores de grãos da região do Capim, segundo Moacir Rocha, são os municípios de Paragominas, Ulianópolis e Dom Eliseu. A atividade econômica, porém, continua enfrentando sérios obstáculos, conforme observou o pesquisador, que detectou uma elevada deficiência na infraestrutura de transporte e serviços, o que resulta em substancial elevação de custos. “Os elevados custos de produção, aliados ao custo logístico, afetam a competitividade e provocam baixa rentabilidade na produção agrícola do Capim”, acrescenta.
De acordo com Moacir Rocha, técnico da Conab no Pará e especialista em gestão da informação no agronegócio, a expansão das áreas agrícolas, que impulsionou a formação de um novo arranjo espacial dos setores produtivos, com destaque para o agronegócio, não foi acompanhada pela expansão da logística de transportes. Desse modo, diz ele, o aproveitamento do potencial da produção de grãos na região do Capim continua ainda na dependência do estabelecimento de um sistema viário eficiente.

>> Governo ignora menores custos de hidrovias, diz pesquisador

Em outro cálculo, evidenciou-se que, para a movimentação da produção de milho da região do Capim, avaliada em 200 mil toneladas ao ano, são necessárias oito mil carretas de 25 toneladas cada uma. Postas em fila, elas teriam uma extensão de oito quilômetros. Com a utilização da hidrovia do Capim, as mesmas 200 mil toneladas poderiam ser escoadas em apenas 40 viagens de seis barcaças. “Só aí já teríamos uma enorme economia de custos e uma formidável redução dos impactos ambientais”, acrescentou.

De acordo com Moacir Rocha, o governo federal vem persistindo em erros históricos ao priorizar o uso das rodovias e ignorar a importância do modal hidroviário, mesmo sendo a navegação uma vocação natural na Amazônia.

“O governo parece ignorar que as rodovias têm custos mais elevados de manutenção, fretes mais caros, transportam menores volumes e geram maior poluição”, afirma o pesquisador. E finaliza: “Além da maior emissão de gás carbônico, o transporte rodoviário oferece riscos também maiores ao ambiente, uma vez que as rodovias induzem ao desmatamento”.

>> Transporte hidroviário é mais barato e muito mais sustentável

Atualmente, a soja produzida no nordeste do Pará é exportada pelo porto de Itaqui, no Maranhão. A análise de variáveis diversas para redução de custos indicou o modal hidroviário como o mais adequado, tendo como principal destino o porto da Sotave, no Outeiro, cuja profundidade mínima é de 14 metros. “A hidrovia do Capim e o terminal do Outeiro, próximo a Belém, devem se constituir em rota preferencial para o escoamento da produção de grãos da região do Capim, além de representar um caminho mais viável para a exportação de outros produtos”, observa o estudo.

Outro aspecto interessante revelado pela pesquisa, no tocante às vantagens do modal hidroviário, diz respeito aos impactos positivos dele decorrentes sob a ótica ambiental, a par da redução de custos financeiros. De acordo com o pesquisador, a queima de combustível no transporte rodoviário resulta numa emissão de carbono oito vezes superior ao do hidroviário. Fazendo diversas simulações, Moacir Rocha mostrou que, para o transporte de uma carga de apenas seis barcaças, são necessárias nadada menos que 200 carretas. (Diário do Pará)