A IMPORTÂNCIA DA COP30 PARA O BRASIL
Moacir da Cruz Rocha¹
O Brasil chega à COP30 com a credibilidade de quem
já avançou de maneira significativa na transição energética, tendo ampliado sua
matriz renovável e se consolidado como um exemplo global em biocombustíveis,
energia solar e eólica. Esse protagonismo vem acompanhado da responsabilidade
histórica de liderar um pacto regional, que una os países da América do Sul em
torno de uma agenda climática comum. Mais do que simplesmente atingir metas,
trata-se de uma oportunidade de transformar a maior biodiversidade do planeta
em um motor de desenvolvimento inclusivo e sustentável, capaz de gerar
empregos, renda, inovação tecnológica e proteção ambiental. O desafio é
equilibrar o crescimento econômico com a justiça social, garantindo que
comunidades locais, povos indígenas e populações tradicionais participem e se
beneficiem desse processo.
Assim, a COP30 se torna um marco não só para o
futuro climático global, mas também para a redefinição do papel do Brasil e da
região amazônica no cenário internacional. O papel de liderança atribuído ao
Brasil na COP30 não se limita ao campo ambiental, mas se estende ao diplomático
e econômico. O país está preparado para se tornar articulador de uma nova
governança climática, na qual o Sul Global não apenas reivindica recursos das
nações desenvolvidas, mas também apresenta soluções concretas baseadas em seu
patrimônio natural e cultural. A Amazônia, centro simbólico e estratégico dessa
agenda, deve ser vista não apenas como floresta a ser preservada, mas como um
laboratório vivo de inovação, onde ciência, tecnologia e saberes tradicionais
dialogam para construir alternativas de desenvolvimento de baixo carbono. A
bioeconomia, nesse contexto, surge como um eixo fundamental, capaz de gerar
riqueza sem comprometer os ecossistemas. Ao mesmo tempo, o Brasil precisa
enfrentar desafios internos: combater o desmatamento ilegal, aumentar o
investimento em energias limpas, fortalecer instituições ambientais e garantir
segurança jurídica para atrair investimentos verdes.
O sucesso
desse esforço poderá servir de modelo para outros países em desenvolvimento,
mostrando que é possível crescer, reduzir desigualdades e preservar o meio
ambiente de maneira simultânea. Assim, a presença brasileira na COP30 não é
apenas um gesto de prestígio internacional, mas a afirmação de um projeto de
futuro: inclusivo, sustentável e solidário, em que a riqueza natural se
transforma em qualidade de vida para todos. Além disso, é importante destacar
que a liderança brasileira na COP30 só terá legitimidade se vier acompanhada de
coerência entre discurso e prática. O mundo observa atentamente se o país
conseguirá cumprir as metas de redução de emissões, eliminar o desmatamento e
consolidar políticas públicas que assegurem a continuidade desses compromissos,
independentemente das mudanças de governo. A credibilidade internacional do
Brasil depende, portanto, de sua capacidade de manter uma trajetória estável e
consistente. Nesse sentido, o fortalecimento de mecanismos de participação
social, a valorização da ciência e o respeito aos direitos dos povos da
floresta são pilares indispensáveis para que o pacto regional ganhe substância.
Outro ponto essencial é a cooperação Sul-Sul. A América Latina, a África e a
Ásia enfrentam problemas semelhantes, como pobreza, desigualdade e
vulnerabilidade climática. O Brasil pode desempenhar um papel estratégico ao
articular alianças que transcendam fronteiras continentais, impulsionando um
movimento global por justiça climática, em que o ônus da transição não recaia apenas
sobre os países em desenvolvimento.
Se bem conduzida, a COP30 poderá ser lembrada como
um momento histórico em que o Brasil não apenas exerceu protagonismo, mas
também inaugurou uma nova lógica de desenvolvimento sustentável — uma lógica em
que a riqueza natural deixa de ser vista como obstáculo e passa a ser o maior
trunfo de um país e de uma região que podem oferecer soluções para a crise
climática mundial. De fato, os números reforçam essa autoridade.
O Brasil possui uma das matrizes energéticas mais
limpas do mundo, com cerca de 47% de sua energia proveniente de fontes
renováveis — índice muito superior à média global, que gira em torno de 15%. Na
geração de eletricidade, essa participação sobe para mais de 80%, sustentada
principalmente pela força das hidrelétricas, mas também pelo crescimento
acelerado da energia eólica e solar nos últimos anos. Além disso, o país é
referência mundial em biocombustíveis, especialmente o etanol de
cana-de-açúcar, cuja tecnologia avançada coloca o Brasil em posição de
liderança no transporte sustentável. A expansão da frota de veículos híbridos e
flex, combinada com políticas de incentivo à mobilidade elétrica, abre caminho
para a descarbonização do setor de transportes, que historicamente é um dos
maiores emissores de gases de efeito estufa. No entanto, a maior credencial
brasileira continua sendo sua biodiversidade incomparável, especialmente na
Amazônia, que abriga cerca de 10% de todas as espécies conhecidas do planeta.
Esse patrimônio natural é ao mesmo tempo uma responsabilidade e uma
oportunidade: responsabilidade, pois sua preservação é vital para o equilíbrio
climático global; e oportunidade, pois a exploração sustentável da bioeconomia
pode gerar inovação, empregos de qualidade e desenvolvimento regional sem
devastação.
Combinando transição energética, preservação
ambiental e inclusão social, o Brasil chega à COP30 não apenas como país
anfitrião, mas como uma voz ativa de um novo paradigma civilizatório, capaz de
reconciliar humanidade e natureza em um modelo de desenvolvimento justo e
duradouro. Nesse contexto, a COP30 em Belém assume também um caráter simbólico
poderoso. Realizá-la no coração da Amazônia é um chamado à consciência mundial
de que o futuro climático da Terra depende diretamente de como lidamos com esse
bioma. A escolha da cidade-sede reforça a ideia de que a periferia global pode
e deve ser um centro de decisões planetárias, invertendo a lógica histórica de
que apenas os países do Norte ditam os rumos do desenvolvimento sustentável.
O Brasil, ao sediar o encontro, tem a chance de se
consolidar como uma ponte entre mundos: entre o Norte e o Sul globais, entre
ciência e saberes tradicionais, entre inovação tecnológica e preservação
cultural. Essa posição privilegiada pode dar ao país a capacidade de articular
consensos, mediar conflitos e propor soluções que atendam não apenas aos
interesses nacionais, mas também às necessidades urgentes da humanidade. No
entanto, é fundamental reconhecer que a liderança exige coragem. Coragem para enfrentar
interesses econômicos predatórios, coragem para colocar limites à exploração
descontrolada dos recursos naturais e coragem para promover mudanças
estruturais que podem gerar resistências internas. Mas é justamente dessa
postura firme que nascerá o respeito internacional e a confiança necessária
para transformar compromissos em ações concretas. A COP30, portanto, não deve
ser vista apenas como uma conferência, mas como um marco de virada histórica,
em que o Brasil e seus vizinhos da América Latina podem provar que
desenvolvimento sustentável não é utopia, mas um caminho viável, inclusivo e
estratégico para um futuro comum.
¹ Engenheiro Agrônomo formado pela Universidade Federal Rural
da Amazônia, Administrador formado pela Universidade da Amazônia, Especialista
em Gestão da Informação no Agronegócio (UFJF), Mestre em Economia (UNAMA).
E-mail: moaroc@gmail.com
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