segunda-feira, 29 de setembro de 2025

A IMPORTÂNCIA DA COP 30 PARA O BRASIL

 A IMPORTÂNCIA DA COP30 PARA O BRASIL 

Moacir da Cruz Rocha¹ 

O Brasil chega à COP30 com a credibilidade de quem já avançou de maneira significativa na transição energética, tendo ampliado sua matriz renovável e se consolidado como um exemplo global em biocombustíveis, energia solar e eólica. Esse protagonismo vem acompanhado da responsabilidade histórica de liderar um pacto regional, que una os países da América do Sul em torno de uma agenda climática comum. Mais do que simplesmente atingir metas, trata-se de uma oportunidade de transformar a maior biodiversidade do planeta em um motor de desenvolvimento inclusivo e sustentável, capaz de gerar empregos, renda, inovação tecnológica e proteção ambiental. O desafio é equilibrar o crescimento econômico com a justiça social, garantindo que comunidades locais, povos indígenas e populações tradicionais participem e se beneficiem desse processo.

Assim, a COP30 se torna um marco não só para o futuro climático global, mas também para a redefinição do papel do Brasil e da região amazônica no cenário internacional. O papel de liderança atribuído ao Brasil na COP30 não se limita ao campo ambiental, mas se estende ao diplomático e econômico. O país está preparado para se tornar articulador de uma nova governança climática, na qual o Sul Global não apenas reivindica recursos das nações desenvolvidas, mas também apresenta soluções concretas baseadas em seu patrimônio natural e cultural. A Amazônia, centro simbólico e estratégico dessa agenda, deve ser vista não apenas como floresta a ser preservada, mas como um laboratório vivo de inovação, onde ciência, tecnologia e saberes tradicionais dialogam para construir alternativas de desenvolvimento de baixo carbono. A bioeconomia, nesse contexto, surge como um eixo fundamental, capaz de gerar riqueza sem comprometer os ecossistemas. Ao mesmo tempo, o Brasil precisa enfrentar desafios internos: combater o desmatamento ilegal, aumentar o investimento em energias limpas, fortalecer instituições ambientais e garantir segurança jurídica para atrair investimentos verdes.

 O sucesso desse esforço poderá servir de modelo para outros países em desenvolvimento, mostrando que é possível crescer, reduzir desigualdades e preservar o meio ambiente de maneira simultânea. Assim, a presença brasileira na COP30 não é apenas um gesto de prestígio internacional, mas a afirmação de um projeto de futuro: inclusivo, sustentável e solidário, em que a riqueza natural se transforma em qualidade de vida para todos. Além disso, é importante destacar que a liderança brasileira na COP30 só terá legitimidade se vier acompanhada de coerência entre discurso e prática. O mundo observa atentamente se o país conseguirá cumprir as metas de redução de emissões, eliminar o desmatamento e consolidar políticas públicas que assegurem a continuidade desses compromissos, independentemente das mudanças de governo. A credibilidade internacional do Brasil depende, portanto, de sua capacidade de manter uma trajetória estável e consistente. Nesse sentido, o fortalecimento de mecanismos de participação social, a valorização da ciência e o respeito aos direitos dos povos da floresta são pilares indispensáveis para que o pacto regional ganhe substância. Outro ponto essencial é a cooperação Sul-Sul. A América Latina, a África e a Ásia enfrentam problemas semelhantes, como pobreza, desigualdade e vulnerabilidade climática. O Brasil pode desempenhar um papel estratégico ao articular alianças que transcendam fronteiras continentais, impulsionando um movimento global por justiça climática, em que o ônus da transição não recaia apenas sobre os países em desenvolvimento.

Se bem conduzida, a COP30 poderá ser lembrada como um momento histórico em que o Brasil não apenas exerceu protagonismo, mas também inaugurou uma nova lógica de desenvolvimento sustentável — uma lógica em que a riqueza natural deixa de ser vista como obstáculo e passa a ser o maior trunfo de um país e de uma região que podem oferecer soluções para a crise climática mundial. De fato, os números reforçam essa autoridade.

O Brasil possui uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo, com cerca de 47% de sua energia proveniente de fontes renováveis — índice muito superior à média global, que gira em torno de 15%. Na geração de eletricidade, essa participação sobe para mais de 80%, sustentada principalmente pela força das hidrelétricas, mas também pelo crescimento acelerado da energia eólica e solar nos últimos anos. Além disso, o país é referência mundial em biocombustíveis, especialmente o etanol de cana-de-açúcar, cuja tecnologia avançada coloca o Brasil em posição de liderança no transporte sustentável. A expansão da frota de veículos híbridos e flex, combinada com políticas de incentivo à mobilidade elétrica, abre caminho para a descarbonização do setor de transportes, que historicamente é um dos maiores emissores de gases de efeito estufa. No entanto, a maior credencial brasileira continua sendo sua biodiversidade incomparável, especialmente na Amazônia, que abriga cerca de 10% de todas as espécies conhecidas do planeta. Esse patrimônio natural é ao mesmo tempo uma responsabilidade e uma oportunidade: responsabilidade, pois sua preservação é vital para o equilíbrio climático global; e oportunidade, pois a exploração sustentável da bioeconomia pode gerar inovação, empregos de qualidade e desenvolvimento regional sem devastação.

Combinando transição energética, preservação ambiental e inclusão social, o Brasil chega à COP30 não apenas como país anfitrião, mas como uma voz ativa de um novo paradigma civilizatório, capaz de reconciliar humanidade e natureza em um modelo de desenvolvimento justo e duradouro. Nesse contexto, a COP30 em Belém assume também um caráter simbólico poderoso. Realizá-la no coração da Amazônia é um chamado à consciência mundial de que o futuro climático da Terra depende diretamente de como lidamos com esse bioma. A escolha da cidade-sede reforça a ideia de que a periferia global pode e deve ser um centro de decisões planetárias, invertendo a lógica histórica de que apenas os países do Norte ditam os rumos do desenvolvimento sustentável.

O Brasil, ao sediar o encontro, tem a chance de se consolidar como uma ponte entre mundos: entre o Norte e o Sul globais, entre ciência e saberes tradicionais, entre inovação tecnológica e preservação cultural. Essa posição privilegiada pode dar ao país a capacidade de articular consensos, mediar conflitos e propor soluções que atendam não apenas aos interesses nacionais, mas também às necessidades urgentes da humanidade. No entanto, é fundamental reconhecer que a liderança exige coragem. Coragem para enfrentar interesses econômicos predatórios, coragem para colocar limites à exploração descontrolada dos recursos naturais e coragem para promover mudanças estruturais que podem gerar resistências internas. Mas é justamente dessa postura firme que nascerá o respeito internacional e a confiança necessária para transformar compromissos em ações concretas. A COP30, portanto, não deve ser vista apenas como uma conferência, mas como um marco de virada histórica, em que o Brasil e seus vizinhos da América Latina podem provar que desenvolvimento sustentável não é utopia, mas um caminho viável, inclusivo e estratégico para um futuro comum. 

¹ Engenheiro Agrônomo formado pela Universidade Federal Rural da Amazônia, Administrador formado pela Universidade da Amazônia, Especialista em Gestão da Informação no Agronegócio (UFJF), Mestre em Economia (UNAMA). E-mail: moaroc@gmail.com  

Nenhum comentário:

Postar um comentário