segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Poder Político para o Agronegócio

Poder político para o agro  

Publicado
em 17/12/2010

Brasil ganhará se o governo igualar o peso político do agronegócio ao mesmo patamar dos benefícios socioeconômicos e ambientais que o setor gera para a nação


 

* Cesário Ramalho da Silva é presidente da Sociedade Rural Brasileira

O Brasil ganhará se o governo da presidente eleita Dilma Rousseff igualar o peso político do agronegócio ao mesmo patamar dos benefícios socioeconômicos e ambientais que o setor gera para a nação. Cabe a Dilma assumir o compromisso de encampar a valorização do setor rural junto ao próprio governo e à sociedade, tirando o agro da periferia do poder. 

Esta posição justifica-se pelo fato que o agronegócio é a maior riqueza do Brasil. Responsável por 25% do PIB e um terço dos empregos, em 2009, o setor representou quase metade do total das exportações (42%).


O bom resultado econômico se transformou em indicadores sociais positivos: maior poder aquisitivo do brasileiro em relação aos alimentos, desenvolvimento dos polos agrícolas e regiões adjacentes, conforme mostrou o IBGE, e o efeito multiplicador de oportunidades e negócios que o agro irradia para os outros segmentos da economia.

Os recentes aumentos nos alimentos são por razões climáticas, que interferiram nas colheitas e estoques mundiais, desequilibrando a oferta e demanda, bem como pela intensa ação especulativa dos fundos de investimento.

Na esfera ambiental, manutenção das nascentes d'água, sequestro de carbono proveniente de lavouras, pastagens e florestas plantadas, proteção da fauna e flora, cuidados com o solo, entre outras ações, são contribuições gratuitas que o produtor rural presta à sociedade, salvo raras exceções.

O Brasil pode perfeitamente ser a potência dos alimentos, da energia limpa e dos produtos advindos da combinação da ciência com a nossa megabiodiversidade. O agro é o segmento que tem mais legitimidade para liderar este processo, porque é a atividade de natureza mais intrinsecamente ligada ao meio ambiente.

O setor tem genuína competência para costurar alianças de interesse público para tratar da questão. O poder político para o agro dará ao Brasil a chance de planejar uma estratégia competitiva, ágil e duradoura, com foco no desenvolvimento sustentável.

Renda

Porém, este redesenho institucional só será viável se o setor distribuir os dividendos da sua boa performance financeira com o principal, mas, simultaneamente, elo mais fraco da cadeia produtiva, o produtor. Especialmente a classe média, espremida entre o poder financeiro de grandes grupos fornecedores de insumos, conglomerados agroindustriais e gigantes varejistas.

O agro caminha bem, mas o produtor não. Segundo o Ministério da Agricultura, o valor de produção das 20 principais lavouras deve fechar 2010 em R$ 169,41 bilhões, resultado 1,5% superior ao obtido em 2009. Contudo, o cálculo abrange apenas o que é produzido dentro das fazendas, desconsiderando, por exemplo, inflação e custos de transporte. Grosso modo, há um verniz de rentabilidade em uma situação, que na ponta do lápis não é bem assim.

Paralelamente, a demanda por alimentos cresce, principalmente, nos países emergentes. No entanto, são cada vez maiores as restrições de áreas agricultáveis no mundo, sendo o Brasil uma das pouquíssimas exceções. Diante deste cenário, o produtor tem que investir cada vez mais em novas tecnologias, a fim de incrementar a produtividade. São gastos com defensivos, fertilizantes, sementes, maquinário, vacinas, suplementos, recursos humanos, ferramentas de gestão e assim por diante.


Tudo isso custa caro, mas ainda paira a falsa percepção que a atividade rural é um processo barato. A indústria alimentícia cobra pela inovação. O produtor não consegue repassar custos, porque ele não dá preço, é refém das cotações dos mercados. Como resolver esta intrincada equação em que é preciso aumentar a produção, de modo equilibrado com o meio ambiente e que remunere satisfatoriamente o produtor? Esta é uma solução que precisará ser encontrada.

Gestão transversal


Um caminho avança pelo estímulo ao tratamento integrado do agro. No passado recente, a pasta da Agricultura teve ótimos ministros, mas seu calibre político ainda é aquém da importância do setor que ela representa. Além disso, a diversidade de políticas públicas vinculadas a outras áreas - mas que interferem diretamente no agro - dificulta ações concatenadas, quiçá planejamento. Sem acesso a um conjunto de temas que o influenciam, o setor rural fica imobilizado.

Pela sua história de superação e coragem, a presidente Dilma tem o "dna" da perseverança e inovação. E o novo também passa pela implementação de uma plataforma de gestão transversal para o agro. O setor precisa ter mais autoridade para discutir os rumos da política agrícola (crédito, seguro, preços mínimos) e, principalmente, ter assento e voz nos fóruns de decisão de questões relativas à infraestrutura, meio ambiente, trabalho, juros, tributação, negociações internacionais, segurança alimentar e jurídica, ciência e tecnologia, entre outras. 

Exemplo seria o Ministério da Agricultura reassumir cadeira no Conselho Monetário Nacional (CMN). Ao ser protagonista das decisões estratégicas que o impactam, o agro, certamente, trará resultados positivos ainda mais rápidos, amplos e consistentes para o País.

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