Quase todas as atividades realizadas
pelo homem têm caráter econômico, ou seja, envolvem trocas monetárias: a
produção de mercadorias agrícolas e industriais, o comércio desses produtos, as
atividades imobiliárias, educacionais, esportivas, etc. Por meio da atividade
econômica a sociedade produz os bens que necessita, tanto os materiais quanto
os imateriais ou serviços.
No ato de produzir, consumir e trocar
produtos, o espaço está sendo transformado. No entanto, nenhum elemento que já
existisse no planeta é utilizado para a criação de novos produtos. O que se
altera é o modo de combinar os mesmos elementos, os novos instrumentos
desenvolvidos para executar as tarefas e o trabalho humano empregado.
No período pré-capitalista, as sociedades
eram basicamente agrícolas e não se diferenciavam muito umas das outras quanto
ao estágio de desenvolvimento. A diferenciação só se acentuou com o
capitalismo, quando a atividade industrial começou a se tornar predominante em
alguns países.
O setor primário, tradicionalmente
caracterizado como rural, com pequena participação nos índices nacionais de
produção e técnicas rudimentares, passou por uma grande evolução nas últimas
décadas. As novas tecnologias permitem realizar melhoramentos genéticos na
agropecuária e aumentar a produtividade, imprimindo um ritmo industrial a essa
atividade.
O campo e a
cidade
Nas sociedades antigas, a agricultura
era a principal atividade econômica. Mesmo naquelas que se celebrizaram pelo
esplendor de suas cidades, a grande maioria da população que trabalhava vivia
nos campos. Na antiguidade, o campo constituía o espaço da produção; a cidade,
o espaço da circulação e do consumo das mercadorias produzidas. A cidade foi
também o espaço da política, do ócio, das artes e da ciência.
As civilizações urbanas que se
desenvolveram na Mesopotâmia e no Egito eram sustentadas pelo trabalho dos
camponeses. O excedente da produção rural se transformava em tributos pagos aos
governantes e sacerdotes, habitantes das cidades.
A agricultura também foi a base
econômica durante toda a Idade Média. Nesse caso, o trabalho agrícola cabia aos
servos, e o excedente da produção alimentava os senhores feudais (inclusive o
clero) e seus exércitos.
Nas sociedades pré-industriais, o campo
abrigava a grande maioria da população e era responsável pela quase totalidade
da produção de riquezas. Por meio de diferentes mecanismos de coerção política,
o excedente da produção agrícola acabava canalizando para o sustento das
populações urbanas e dos homens em armas.
A Revolução Industrial transformou
radicalmente as relações entre o campo e a cidade. Somente as cidades podiam
oferecer as condições necessárias para o nascimento da grande indústria:
concentração de mão-de-obra e mercado consumidor, além da possibilidade de uso
comum da infra-estrutura necessária ao funcionamento das fábricas (sistema de
energia e abastecimento de água).
A urbanização acompanha a
industrialização. Ao mesmo tempo que libera mão-de-obra para as atividades
urbano-industriais, a agricultura deve responder pela produção de uma
quantidade crescente de alimentos para as populações das cidades. Menos pessoas
produzindo no campo, mais pessoas consumindo nas cidades: isso só foi possível
graças ao aumento da produtividade agrícola. Um conjunto de transformações nas
técnicas de cultivo conhecido como Revolução Agrícola precedeu e preparou a
Revolução Industrial.
Nas economias modernas, o mercado
urbano (de alimentos e matérias-primas) determina a produção agrícola. A
produção rural, antes auto-suficiente, se especializa e passa, de um lado, a
atender às demandas da cidade e, de outro, a depender das cidades para o
abastecimento de maquinários, insumos e alimentos industrializados. A cidade,
antes espaço de consumo e circulação de excedentes da produção agrícola, se
torna centro de transformação industrial e de redistribuição da totalidade
dessa produção.
O campo se
moderniza
Nos países
desenvolvidos, o emprego massivo de tecnologia na agricultura produz uma forte
integração entre o setor agrícola e o setor industrial. Nesse caso utiliza-se a
expressão agricultura industrializada.
Ao mesmo tempo que
atende às demandas urbano-industriais, a agricultura nesses países constitui um
poderoso mercado de consumo para as indústrias urbanas. Tratores, semeadeiras e
colhedeiras mecânicas, fertilizantes, adubos químicos e até computadores fazem
parte do arsenal de insumos industriais que explica as elevadas taxas de
produtividade agrícola.
Apesar de toda a
tecnologia empregada, o trabalho na agricultura é menos produtivo que do que o
trabalho na indústria.
Nesses países, a
participação do setor agrícola no PIB é sempre inferior a porcentagem da PEA
empregada na agricultura. A indústria, em contrapartida, apresenta uma
participação no PIB superior à PEA empregada no setor. Isso significa que uma
mesma porcentagem de trabalhadores produz menos riquezas na agricultura do que na indústria. Esse diferencial negativo
de produtividade indica que, apesar dos altos investimentos em tecnologia, a
agricultura jamais se industrializa completamente. Mesmo mecanizada e
automatizada, a agricultura continua vulnerável aos ciclos vegetativos impostos
pela natureza, bem como às alterações climáticas que escapam ao controle humano
e impõem barreiras à aceleração do ritmo de produção.
Entretanto a
reduzida participação da agropecuária na geração do PIB e na absorção da PEA
escamoteia a verdadeira importância do setor na economia dos países
desenvolvidos. Em muitos deles, o setor primário dinamiza inúmeros ramos
industriais.
As novas relações cidade X
campo
A produção
agrícola é obtida em condições muito heterogêneas no mundo. Das diversas formas
de relação entre o homem e o meio geográfico, a vida rural, e mesmo a vida da
população urbana que trabalha em atividades agrícolas é muito
diversificada.
Os países
desenvolvidos e industrializados intensificaram a produção agrícola por meio da
modernização das técnicas empregadas, utilizando cada vez menos mão-de-obra.
Nos países subdesenvolvidos, foram principalmente as regiões agrícolas que
abastecem o mercado externo que passaram por semelhante processo de
modernização das técnicas de cultivo e colheita. Em contrapartida, houve o
êxodo rural acelerado, que promoveu o drástico empobrecimento dos trabalhadores
agrícolas, concentrados nas periferias das grandes cidades. Por outro lado,
todas as regiões em que se utilizam métodos tradicionais de produção –
principalmente nos países pobres do Sudeste asiático e na maioria dos países
africanos – buscam ainda meios de associar um modo de vida rural extremamente
rudimentar às incertezas biogeográficas e climáticas, na tentativa de evitar o
flagelo da fome.
Os sistemas agrícolas
Os sistemas
agrícolas e a produção agropecuária podem ser classificados como intensivos
ou extensivos. Essa noção está ligada ao grau de capitalização e
ao índice de produtividade, independente da área cultivada ou da criação. As
propriedades que, através da utilização de modernas técnicas de preparo do
solo, cultivo e colheita, apresentam elevados índices de produtividade e
conseguem explorar a terra por um longo período, praticam o sistema intensivo.
Já as propriedades que se utilizam da agricultura tradicional (aplicação de
técnicas rudimentares com baixa produtividade) praticam a agricultura ou
sistema extensivo.
A agricultura de
subsistência
São sistemas agrícolas largamente aplicados em
regiões onde a agricultura é descapitalizada. A produção é obtida em pequenas e
médias propriedades ou parcelas de grandes latifúndios (nesse caso, parte da
produção destina-se ao proprietário para pagamento do aluguel), com utilização de mão-de-obra familiar e
técnicas tradicionais e rudimentares onde a produção destina-se a subsistência
da família. Por falta de assistência técnica e de recursos, não há preocupação
com a conservação do solo, as sementes utilizadas são de qualidade inferior,
não se investe em fertilizantes e, portanto, a rentabilidade, a produção e a
produtividade são baixas. Nesse tipo de sistema é freqüente o uso das queimadas em novas áreas de
plantio, tendo em vista a medida em que o solo é esgotado, muda-se de local.
Daí o nome de agricultura itinerante. Tal sistema ainda existe em boa parte
dos países africanos, asiáticos e na América Latina, mas o que prevalece hoje é
uma agricultura de subsistência voltada ao comércio urbano, porém o dinheiro
apenas garante a sobrevivência do agricultor e sua família.
A agricultura de jardinagem
(rizicultura irrigada)
Essa expressão se
originou no Sul e Sudeste da Ásia, onde há uma enorme produção de arroz em planícies
inundáveis, com utilização intensiva de mão-de-obra.
Tal como a
agricultura de subsistência, esse sistema é praticado em pequenas e médias
propriedades. A diferença é que nelas se obtém alta produtividade, através do
selecionamento de sementes, da utilização de fertilizantes, da aplicação de
avanços biotecnológicos e de técnicas de preservação do solo que permitem a
fixação da família na propriedade por tempo indeterminado. Nos países com altas
densidades demográficas, as famílias contam com áreas muitas vezes inferiores a
um hectare e as condições de vida são bastante precárias.
Após a
comercialização da produção e a realização de investimentos para nova safra, há
um excedente de capital que permite melhora, a cada ano, as condições de
trabalho e a qualidade de vida da família. Porém, esse contexto não vale como
regra.
A Plantation
É a grande
propriedade monocultora, com produção de gêneros tropicais, voltada para a
exportação. Forma de exploração típica dos países subdesenvolvidos. Esse
sistema foi amplamente utilizado durante a colonização européia.
Na atualidade,
esse sistema persiste em várias regiões do mundo subdesenvolvido (Brasil,
Colômbia, América Central, Gana, Costa do Marfim, Índia, etc.), utilizando além
de mão-de-obra assalariada, trabalho semi-escravo ou escravo.
Cinturão verde e bacias
leiteiras
Ao redor dos
grandes centros urbanos, onde a terra é valorizada, pratica-se agricultura e
pecuária intensiva para atender às necessidades de consumo da população local.
Nessas áreas produz-se hortifrutigranjeiros e cria-se gado para a produção de
leite e laticínios em pequenas e médias propriedades, com predomínio da
utilização de mão-de-obra familiar. O excedente obtido é aplicado na
modernização das técnicas.
As empresas agrícolas
São as
responsáveis pelo desenvolvimento do sistema agrícola dos países desenvolvidos,
com destaque para os Estados Unidos e a União Européia. Nesse sistema, a
produção é obtida em médias e grandes propriedades altamente capitalizadas,
onde se atingiu o máximo do desenvolvimento tecnológico. A produtividade é
muito alta em decorrência do selecionamento de sementes, uso intensivo de
fertilizantes, elevado grau de mecanização agrícola, utilização de silos de
armazenagem, sistemático acompanhamento de todas as etapas de produção e
comercialização por técnicos. Funciona como uma empresa e sua produção é
voltada ao abastecimento do mercado interno e externo. Nas regiões onde se
implantou esse sistema, verifica-se uma tendência à concentração de terras, na
medida em que os produtores que não conseguem acompanhar os avanços tecnológicos, perdem condições de
concorrer no mercado e acabam por vender suas propriedades. É o sistema
agrícola predominante nos Estados Unidos, Canadá, Austrália, União Européia e
porções da Argentina e do Brasil.
A agropecuárias em países
desenvolvidos
De maneira geral,
a agricultura e a pecuária são praticadas de forma intensiva, com grande
utilização de técnicas biotecnológicas modernas. Em razão disso, é pequena a
utilização de mão-de-obra no setor primário da economia (conforme tabela
acima).
Nesses países,
além dos elevados índices de produtividade, obtém-se também um enorme volume de
produção que abastece o mercado interno e é responsável por grande parcela do
volume de produtos agropecuários que circulam no mercado mundial. Uma quebra de
safra de qualquer produto cultivado nos Estados Unidos tem reflexos imediatos
no comércio mundial e na cotação dos produtos agrícolas.
A
agropecuárias em países subdesenvolvidos
Nos países subdesenvolvidos
é impossível estabelecer generalizações, já que os contrastes verificados entre
os membros desse bloco repetem-se também no interior dos próprios países, onde
convivem lado a lado, modernas agroindústrias e pequenas propriedades nas quais
se pratica a agricultura de subsistência.
Tanto nos países subdesenvolvidos cuja base
econômica é rural, como nas regiões pobres dos países subdesenvolvidos
industrializados, há um amplo predomínio da agricultura de subsistência
contrastando com o sistema de plantation. Essa situação é uma herança
histórica do período
em que esses países foram colônias. Desde então, excluem a população dos benefícios econômicos
atingidos.
O setor primário
constitui a base da economia nesses países. Como se pratica uma agricultura
predominantemente extensiva, o percentual da população economicamente
ativa que trabalha no setor primário é
sempre superior a 25%, atingindo, às vezes, índices espantosos. Porém, isso não significa que esses países são os maiores
produtores de alimentos, bem como também não são grandes exportadores.
A maior quantidade
de alimentos por trabalhador agrícola não é produzida pelos países com maior
concentração populacional no campo. Ao contrário, a alta produtividade é
característica dos países mais urbanizados, mais industrializados, mais
mecanizados e com maiores investimentos em pesquisas tecno-científicas. Isso
permite-nos afirmar que, os países ou regiões onde a economia tem por base a
produção agrícola são os que passam por maiores dificuldades econômicas e, por
conseguinte, são os países onde a maioria de sua população tem problemas (grave
as vezes) de desnutrição ou subnutrição.
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